Introdução
Se você está lendo esse livro é porque gostaria de desenvolver suas competências como líder técnico. Mas você já parou para refletir sobre quem é o líder técnico? Qual seu papel na equipe e fora dela? O que ele faz?
Este livro representa o nosso intento em te ajudar nessa jornada de crescimento em posições de liderança. Não somente para a migração de uma posição operacional, como de desenvolvedor de software, para uma de primeiro nível de liderança, mas também até a de um CTO (Chief of Technology Officer) responsável por vários times de tecnologia.
Liderança como um pipeline
Percebemos a liderança como um pipeline assim como bem descrito por Ram Charan no seu livro o Pipeline de Liderança. Nesta perspectiva, a liderança dentro das organizações é como um pipeline a ser trilhado passando por vários níveis dentro de uma hierarquia, sendo que a cada passagem muda-se consideravelmente as exigências do cargo, os requisitos e até mesmo os valores profissionais.
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![]() Pipeline de Liderança Apresenta a visão de liderança em diversos níveis dentro da organização demonstrando os desafios das transições em cada etapa e como a empresa pode ser organizar para ter um fluxo constante para formação de novos líderes |
Essas transições de níveis, geralmente, não são triviais e a incompetência das pessoas em transpô-las é o que inspira uma sátira chamada de O Princípio de Peter. Nessa sátira dois estudiosos defendem a ideia de que as pessoas são promovidas até chegarem ao seu nível de incompetência e, embora seja uma sátira, provavelmente você conhece histórias de pessoas que eram excelentes técnicos e se tornaram péssimos gestores.
Não queremos que esta seja a sua história e nem a de ninguém que você esteja ajudando a se desenvolver como um líder e para começar, gostaríamos de refletir com você sobre quem é o líder técnico.
Quem é o líder técnico?
A principal característica para definir um líder técnico, provavelmente, é sua multidisciplinaridade. Sua posição exige acumular tanto competências técnicas robustas, como habilidades comportamentais.
Da perspectiva das hard skills, ou seja, a respeito das capacidades que são possíveis de comprovar através de diplomas, certificados ou testes práticos, esse é um profissional que precisa possuir autoridade técnica. Por exemplo, é necessário ser capaz de opinar, debater e direcionar decisões de arquitetura da solução que está sendo desenvolvida. Precisa ter conhecimentos sólidos em algoritmos, engenharia de software em geral e, sobretudo, dominar a stack tecnologias do time.
Seu papel envolve tomar decisões importantes que exigem fundamentação técnica, para que se faça boas escolhas e também para conquistar o respeito do seu time.
Embora as competências técnicas tenham um aspecto de destaque, essa é uma posição predominantemente de liderança, portanto, habilidades comportamentais também são essenciais, como bom relacionamento interpessoal, desenvoltura para lidar com situações embaraçosas, habilidade de negociar e mediar conflitos, além de competência para influenciar as outras pessoas.
É importante reconhecer que essa é uma posição de atuação bastante contextual dentro das organizações. Dependendo do tamanho, estrutura organizacional e cultura da companhia esse papel pode variar bastante.
Qual o papel do líder técnico?
O líder como ponte entre o negócio e tecnologia
O líder técnico é alguém capaz de transpor o abismo entre o time de negócio e a execução dentro do time de tecnologia.
Infelizmente, é comum times de negócio subestimarem a complexidade técnica e as dificuldades para se realizar a implementação de um código. Por outro lado, também não é raro equipes de tecnologia subestimarem o entendimento das outras pessoas sobre o negócio e o sistema que está sendo desenvolvido. Esses comportamentos criam, ao longo do tempo, um abismo de colaboração entre os times.
Também é natural que o time de tecnologia use um linguajar demasiadamente técnico, com jargões e explicações que não sensibilizam aqueles que estão demandando novas funcionalidades. Sem contar que sua abordagem mais metódica e direcionada a processos, pode ser facilmente confundida com burocracia e má vontade, mesmo quando necessária para resolver os problemas de forma mais eficiente.
Em meio desse quase campo de batalha, o líder técnico tem o desafio de conectar esses dois diferentes mundos: pessoas de negócio e pessoas técnicas. Portanto, adaptar sua comunicação para lidar com clientes, interagir com usuários e conversar com o time comercial é essencial. É um papel que exige inteligência emocional para lidar com temas urgentes que surgem de maneira menos organizada e planejada que gostaríamos.
Nesse papel o líder técnico é aquele que “coloca a bola no chão” quando o negócio pede o “impossível” e o time técnico se perde em meio a detalhes que o impede de alcançar resultados.
O líder como defensor da solução técnica
O líder técnico é o responsável por garantir que o software não se torne legado prematuramente
A qualidade da solução técnica é uma responsabilidade importante de um líder em tecnologia. Não somente dos entregáveis de cada um do seu time, mas também do produto final que está sendo construído.
Essa tarefa envolve, desde a negociação de prazos para o time desempenhar um bom trabalho, estudo dos possíveis caminhos para resolver um problema dentro das restrições de prazo e orçamento, mas também domínio sobre práticas modernas de engenharia de software como code review, teste de unidade, gestão eficiente das dívidas técnicas, branching strategies, devops e site reliability engineering (SRE).
O líder técnico não precisa ser um especialista em tudo para desempenhar um bom trabalho, inclusive, é natural que em seu time tenha profissionais mais experientes e capacitados que ele em determinados assuntos. Porém, sua posição exige um conhecimento generalista e que não pode ser superficial.
O líder como promotor do time
Se liderar significa bater metas com o time, como apresentado pelo professor Falconi, então, necessariamente, o papel do líder envolve obter resultados por meio das pessoas. Na prática, o líder deve investir tempo no desenvolvimento do seu time. Fornecer orientação, apoio, estabelecer metas e criar um ambiente favorável à motivação.
O líder deve estar atento às pessoas, identificando suas aptidões e os ajudando a se posicionar em trabalhos que valorizem suas virtudes e amenizem suas dificuldades.
Um bom líder tem habilidade para conduzir mudanças e alcançar novos patamares de excelência junto com seu time. Isso exige boa comunicação, gestão de expectativas, disciplina para manter o alinhamento e formas de amenizar os atritos naturais que uma transição pode causar.
As a leader, you should be working very intentionally to spark as much emotion and passion as you can among your team rather than worrying about running the kinds of conventional management studies that try to measure how hard or fast people are working.
Open Organization, James M. Whitehurst. (2015)
Mas, líder técnico é um cargo ou um papel?
Existem empresas onde o líder técnico é tratado como um papel. Na prática, isso implica que não existe uma posição formal com esse título. O mais comum nesse cenário é que um desenvolvedor mais experiente do time assuma essa responsabilidade de maneira orgânica, sem nenhuma chancela institucional explícita para endossar a atuação desse profissional. Geralmente, ele emerge se tornando uma referência para os outros desenvolvedores e acaba sendo um ponto focal recorrente para interação com outras áreas.
Já em outras companhias o líder técnico é um cargo formal da organização onde inclusive existe uma certa relação de subordinação com o time e responsabilidades mais bem definidas.
Embora sejam abordagens diferentes, os dois modelos podem funcionar de maneira eficiente e trazer resultados satisfatórios. O principal ponto é a competência do profissional. Um bom líder não precisa que sua posição esteja escrita em algum livro do RH para exercer influência positiva sobre seu time.
Um modelo de competência para o líder técnico
Um modelo de competência é um ponto de partida, uma diretriz a ser contextualizada dentro de uma realidade, que pode servir como um guia para pensar no próprio trabalho e no processo para desenvolver novos líderes.